sábado, 19 de dezembro de 2009

Amizades Revisitadas

Um barzinho que não conhecia, um trajeto esquisito e muita caminhada sobre um salto alto num asfalto irregular...

Se o resto da noite fosse no mesmo ritmo, teria sido uma tragédia, mas logo ao ver os sorrisos familiares, o que havia de ruim se dissipou.

A experiência de rever amigos que não via há pelo menos oito ou nove anos foi muito intensa.

As roupas, o menu, os corpos e falas eram todos diferentes, porém os olhares, os sorrisos, as bobagens, a jovialidade e o carinho comum não mudaram e isto é o que valoriza tanto estes reencontros: saber que a essência não mudou com o tempo, que são aquelas mesmas pessoas, as mesmas almas com as quais se conviveu e tanto partilhou.

E apesar de sabermos que já se vão dez ou onze anos desde a nossa infância partilhada, a maioria não mudou quase nada... Acho que essa fonte de juventude é na verdade o modo como olhamos para aqueles de quem temos saudades: como se o presente instante fosse a imediata continuação do instante há tanto ido...

Um beijo grande a todos e todas!
K.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Rosa



Após anos tentando representar com palavras inúmeras o significado da rosa, vulgo rainha das flores, para mim, sem nenhuma palavra e em aproximadamente cinco minutos, consegui transpirar este símbolo, fazendo vazar a minha alma pela minha pele.

A todos que colaboraram, Ronaldo, Aryel, Carol e Letícia, muito obrigada! Sem apoio, a rosa perece!

Aos que presenciaram e viveram comigo este momento, saibam que era a minha alma conversando com vocês naqueles minutos!

Um forte abraço a todos e todas,
K.

Eclipse?

Talvez o título "Raiou o Sol" para um dos últimos posts tenha sido precipitado, ou não...

Definitivamente, está difícil equilibrar os pratos enquanto tento me manter em pé através da avalanche...

Quando entrei na faculdade, o fiz querendo trabalhar numa abordagem de cuidados paliativos por visualizar a morte na sociedade de uma forma muito negativa e solitária.

Ocorre que não esperava iniciar minha prática com meu próprio avô. Percebi o quanto será difícil, DIFÍCIL MESMO, atuar nesta área, ainda mais por ter afetos e sentimentos muito intensos transpassando esta minha relação. Acompanhar o processo de morte do meu avô foi muito doloroso, mas curiosamente libertador. Que fique muito claro que não foi sem dor, ao contrário, foi dilacerante; porém realmente atestei que amor maior é deixar aqueles que amamos partirem do que tentar segurá-los conosco às custas de dor, sofrimento e angústia.

Um ser humano tem o direito de morrer como viveu; livre, sereno, perto de sua família e amigos, sem dor, sem dor, sem dor!

É triste aceitar que alguém que supostamente tinha muito ainda a viver ou muita vontade de viver seja levado pela inoportuna doença, porém é um grande mistério este, o de saber a hora da morte, de driblá-la, ludibriá-la, e por fim, aceitá-la.

Meu avô foi uma pessoa que viveu pelos outros, e viveu intensamente. Seus afetos eram intensos e puros, fortes e ao mesmo tempo serenos; beijos estalados e italianos tapas na face... Extremamente vitalizado, suas risadas, sua disposição, sua força de viver eram tão gritantes que era impossível não se sentir um pouco mais vivo estado ao seu lado...

Como aceitar uma morte tão incondizente com toda a sua vida?

Como aceitar que enquanto alguns buscam a morte incansavelmente, aqueles que lutam para sobreviver e viver vão embora?

Sim, todos vamos morrer e sempre soubemos disso, mas há pessoas que se mostram tão imortais que chegamos a esquecer que, na verdade, não o são.

Imortal é a lembrança, a memória, o sentimento e a saudade. A tristeza, - assim espero - esta é tão mortal quanto cada um de nós!

E através destas nuvens negras que encobriram o sol que raiou, ou desta lua eterna que não pára de eclipsar o sol que tenta reinar, pude me despedir do meu avô e deixá-lo partir e descansar, longe da dor, do frio e do sofrimento.

domingo, 29 de novembro de 2009

"Minha Vida Sem Mim"

Olá, vocês!

Bem, assisti a este filme que deu título ao post numa fase não muito adequada - ou talvez a mais adequada - para este tipo de reflexão.

Apesar de ter sido muito torturada com o conteúdo, recomendo o filme a qualquer pessoa que precise pensar sobre a vida, e para os interessados em Cuidados Paliativos e Terminalidade.

Não vou comentar a história, pois isto cabe aos críticos de cinema que já estão por aí... Quero comentar um pouco sobre minhas reflexões...

Somos tão, mas tão estúpidos pensando o quanto somos indispensáveis e insubstituíveis, não é? Somos sim, a meu ver, únicos e exclusivos, porém os papéis que desempenhamos podem ser assumidos por qualquer um que se disponha a isto, a qualquer momento.

Por que será então que nos agarramos tão arduamente às nossas SUPOSTAS atribuições? Por que fazemos nossos papéis serem mais importantes do que nossa subjetividade? Por que preferimos ser O Estudante, O Vendedor, O Professor, O Responsável por X, O Filho ou O Pai ou A Irmã, ao invés de sermos apenas Karen, Joãozinho e Mariazinha?

Meu palpite é que preferimos ocupar um lugar que já é reconhecido e pelo qual se tem valor em ocupar do que lutar para conquistarmos o valor em sermos simplesmente nós mesmos...

Fato é que quando não existimos mais, continuam existindo os estudantes, vendedores, professores, responsáveis e irresponsáveis, filhos, pais e irmãos... O que acaba é a Karen, o Joãozinho e a Mariazinha... E acaba mesmo, sem dó nem dúvida...

O que vale mais? Ser o que se é e fazer a existência valer a pena ou ser o que todo mundo pode ser e ser só mais um que vive numa massa?

Acho que já fiz a minha escolha!

Um bom começo de semana a vocês!

Grande abraço,
K.

Raiou o Sol!

Olá a todas e todos!

Lamento o silêncio que tem ocupado este espaço. Deve-se a minha usual incapacidade de escrever com freqüência aceitável num blog, agravada por um período de grande turbulência em minha vida pessoal, conhecido pela maioria de vocês.

Curioso, antes, a tristeza costumava me fazer escrever páginas e mais páginas... Acontece que de uns tempos para cá, minha tristeza vira silêncio, mas um silêncio tão quieto que quase me lembra o vazio, se não fosse a dor que o acompanha.

Não quero ficar aqui lotando linhas com dor, mas o silêncio deste blog estava me incomodando também, como se até neste espaço, a tristeza tivesse desembarcado trazendo a dor junto com ela para cá também.

Será que isto é um refúgio? Será que romper com o silêncio aqui diminui a dor? Não sei... Mas queria mesmo escrever alguma coisa, como se pudesse gritar aqui do jeito que não posso, por ética e razão, fora da esfera virtual.

Dia 17... Minha simpatia pelo número e pela data está cada vez mais inexistente. Perdi meus dois vovôs neste dia, com apenas dois anos e dois meses de diferença entre as duas separações.

Meu entendimento sobre o desenlace, entretanto, foi diferente desta vez. É claro que senti - e estou sentindo - muito por isso, mas agora vejo o quanto sinto mais por mim - pelos meus remorsos, pela minha saudade, pela minha vida sem saber que a vida dele ainda existe - do que realmente por ele, que afinal de contas, merecia descansar da aflição que havia se tornado viver incapacitado nos últimos meses, cada dia mais.

Não quero que este post vire uma lápide, mas acho justa uma homenagem ao homem que se pintou de palhaço e andou com saltimbancos, que era boêmio assumido e devoto, advogado formado já na maturidade, um espírita espiritual, um bom homem, simples assim!

Acho que a liberdade tinha tudo a ver com ele, sendo assim, como poderia viver sem poder andar, sem poder comer sozinho, sem poder ser o que sempre foi e sempre gostou de ser, agradando ou desagradando às pessoas?

Podia ter sido tudo diferente, mas fazemos nossas escolhas, não é? Espero que ele tenha sido muito feliz nas escolhas que fez, embora algumas me parecem inaceitáveis, mas tento respeitá-lo pois também agora só existem o silêncio e as lembranças.

Eu até entendo a vida, mas anda difícil aceitá-la como é... Pelo menos, tentei parar de me enganar um pouco, como se eu não sentisse tudo isso que está acontecendo em volta de mim...

O curioso é que nisso tudo, vez ou outra aparece algo de bom, como uma lâmina de luz atravessando o quarto mais escuro...

Até a próxima que, espero, não tarde!

Abraços a vocês,
K.

sábado, 19 de setembro de 2009

Sem Definição

Sem Definição

Versos longos não são melhores
Nem nunca serão
Versos curtos, tiradas esnobes
Sucumbem no mata-borrão
Poesia, palavras pobres
Só para esvaziar o coração
Ah, solidão que dói e queima
Paixão que corrói e teima
Sem nem dar satisfação
Poesia, palavras vazias
Que ecoam na escuridão
Reverberam em ondas frias
Cálidas com sobejidão
Refletem, difratam, esbanjam emoção
Palavras de uma alma enfurecida
Cheia de torpor
Uma canção esvaecida
Transbordando amor
Exposição; posição esclarecida
Uma tensão enrustida
Um medo de flor:
A poda, o adubo
O desamor do mundo
Ou a doce adoração...
É a luta
O contraste
A muda
O desastre
De viver em contradição
Nunca se sabe o que se sente
Quando é pra dizer a verdade, se mente
E não vem o clarão;
O que é real se subentende
Nada se esclarece, fica tudo pendente
E se nada aqui tem nexo
Nada se compreende entre o côncavo e o convexo
É porque há um visível excesso
De informação...

SP, 28/12/2003

Esta poesia faz parte de um novo livro que será lançado ainda este mês.

É antiga, mas gosto muito, pessoalmente e com muita modéstia, afinal está bem longe da Cecília Meirelles e do Alphonsus de Guimaraens, mas me contento em ser mortal!

Um forte abraço!

E aguardem o novo livro!
K.

Quantas vidas nós temos?

Há alguns anos acredito em reencarnação. Acho inexplicáveis os laços que criamos, sentimentos que despertam subitamente - e se despertam, é porque estavam adormecidos - e que levamos até o fim de nossas vidas e quem sabe até depois da morte...

As religiões me atraem como curiosa e sempre gostei de pensar suas convergências e diferenças.

Pensando em algumas crenças, me ocorreu uma suposição: acreditar na reencarnação para ALGUNS pode se transformar numa espécie de "desculpa para preguiçosos", pois não necessariamente é preciso chegar ao fim desta vida como uma alma "evoluída", resolver todas as questões, dirimir desafetos e mágoas, uma vez que se pode ter outras vinte passagens pela terra nas quais se pode ir resolvendo suas pendências - e quem sabe adquirir outras - calmamente.

É certo que minha alma não é evoluída o bastante para que eu possa deixar esta vida e nunca mais ter que retomá-la ao menos por aqui, porém eu gostaria muito de não ter que retornar para cá.

Acontece que há pessoas sem as quais não consigo pensar ser viável passar a eternidade. Será que ficaremos adormecidos esperando o dia do Juízo Final para sermos julgados, podendo ser absolvidos ou condenados e assim separados para sempre?

A única coisa que espero, tendo apenas esta vida ou outras mais, é que eu seja digna de permanecer junto aos meus, estar em consonância com Deus e poder exterminar a Saudade de quem já foi.

Um forte abraço,
K.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Delicadeza

Apesar do título bem amplo e vago, a delicadeza a que me refiro é a das nossas vidas... Talvez melhor título seria "fragilidade", mas prefiro qualificar como delicada a vida que embora suave não é fraca; é simultaneamente vulnerável e demasiadamente complexa - biológica, psíquica ou ainda espiritualmente - para ser taxada FRÁGIL.

Frágil é talvez o campo das emoções enquanto uma porta escancarada entre o nosso ser e o mundo, algo que ultrapassa a barreira da pele, boicotando-a.

Complexa e rígida é a nossa organização biológica, porém com toda a sua mirabolante engenharia, apenas uma única célula rebelde pode comprometê-la por inteiro.

O que dizer então? Que somos uma máquina pensante e autônoma ou que somos complexos a ponto de a partir de apenas uma célula constituirmos tecidos com funções diversas ou ainda que somos simplórios também, a ponto de sucumbir através da ação de uma bactéria, que "jamais morrerá" e se dividirá inconscientemente no limbo de uma existência puramente simples e unicelular?

A eternidade faz muito sentido para mim e a creio como promessa verdadeira, mas que vantagem temos sobre uma bactéria que a seu próprio modo, também possui a eternidade, mesmo sem possuir a cognição ou a emoção, ou ainda a experiência extasiante da fé?

Creio que minha pergunta em si já é a resposta... Com todo seu poder de bipartição, a bactéria e todos os outros seres vivos - ou mortos - não humanos jamais poderão apossar-se da sensação deliciosa de entender o mundo a seu redor, de usar os sentidos para ver, ouvir, cheirar, degustar; sentir enfim, como um ser humano...

Com toda a delicadeza da nossa existência, temos incríveis possibilidades de existir no mundo, mesmo com algumas deficiências e debilidades, mesmo lidando com angústias que provêm das nossas próprias capacidades e da nossa diferenciação.

E mesmo sabendo que somos simples e instáveis a ponto de sermos traídos por nossas próprias células, penso que minha vida não teria mais sentido do que tem hoje se eu fosse outro ser vivo - ou morto - qualquer...

A delícia de SER humano, mesmo com as nossas decepções com nossos iguais, para mim é poder olhar para dentro e sentir a vida correndo - dias mais cansada, dias mais veloz - em minhas artérias e imprimindo em cada célula que nasce e morre a minha história!

Um forte abraço,
K.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vai-se Agosto, vem Setembro!

Tramitando o tempo intermitente,
mais um mês esgota na velocidade cretina dos anos.


Nunca me apeteceu a violência com a qual o tempo nos invade... Prefiro a lentidão de uma nuvem transitando no céu, ou de uma planta germinando e até mesmo a paciência com que as linhas vão redesenhando nossas faces durante a vida. Porém ao invés disso, o que vivemos é a pressa do concluir, de encerrar-se mais um dia, de terminar o trabalho, de limpar a casa toda, de redigir mais aquele texto...

Enquanto caçamos o enfim, esquecemos o durante... Andamos apressados e não vemos quando o sol desaparece ou mesmo quando nasce... Fechamos as persianas e os monitores com telas cada vez mais límpidas e imagens cada vez mais nítidas tomam o lugar do nosso reflexo no espelho!

Não riscamos mais os dias no calendário pois até mesmo a contagem dos dias é automática... Esquecemos as datas, as comemorações, inclusive as folgas...

Sem perceber, temos o tempo todo ocupado e ainda assim não temos tempo para nada...

Barulho por toda a parte, música em quase nenhum lugar...

Talvez este caos seja mesmo o motivo para que desejemos tão ardentemente que o dia chegue ao final... O que não lembramos é que um dia terminado é menos um dia de vida!

Desejo a todas e todos um setembro moroso e sossegado!

Um forte abraço,
K.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Visit Clube de Autores

Um Novo Espaço

Olá a todas e todos!

Após muitos anos escrevendo poesias, prosas e contos silenciosamente, tive a oportunidade de, através do "Clube de Autores" publicar meu primeiro livro.

Espero, em breve, publicar outros projetos antigos e a partir deste incentivo, retomar a Arte das Letras e construir novos projetos!

A seguir, o link para o meu primeiro livro, entitulado "Ao Amor, Pétalas!"

http://clubedeautores.com.br/book/3869--Ao_Amor_Petalas

Vou me esforçar para sempre inserir novos posts neste espaço e através dele, estabelecer contatos com interessados em poesia e divagações poéticas de outras formas.

É um grande prazer estar de volta!

Um forte abraço,
Karen Gallão