terça-feira, 22 de junho de 2010

Arco-Íris


"Nem a luz decomposta em sete cores, nem o sol atravessando a água cristalina da fonte...

Nem o vento cortando um campo de flores, nem uma fênix se renovando de todas as dores...

Nem o riso farto de todos amores, nem a doçura cortante dos licores...

Nem a primavera que quebra os rigores, nem a juventude e seus fulgores...

Nada se mostra como seu sorriso, mais alvo e aberto que um oceano cristalino e seu brilho sob a Noite!"


(Imagem: Óleo sobre tela de Romero Britto)

terça-feira, 1 de junho de 2010

De Branco

"Peço a você que se acomode com conforto, a luz é agradável e quase inofensiva, um aroma amadeirado muito sutil está no quarto enquanto ruídos urbanos transitam por nossos ouvidos...

Dentro de mim, meu coração pulsando forte me lembra que devo respirar mais rápido, ou um pouco mais profundo e enquanto me visto, um sorriso desenha meus lábios ao pensar nos seus olhos parados em mim... 'Sou sua', é o que penso ao olhar-me no espelho antes de me aproximar de onde você está...

Enquanto me apresento, os véus timidamente tamborilam e aos poucos me descortinam enquanto meu quadril sinuosamente faz desenhos que me aproximam de você... As mãos que se torcem na verdade te chamam, te convidam; pedem com um leve desespero que conduza aquele corpo que se agita e grita 'você'!

Os lenços, as miçangas, tudo vibra e dança e sorri porque seu olhar não permite que nenhum movimento escape, mesmo quando mãos, braços, cintura, pernas e quadril tentem tão inconscientemente te confundir e te fazer se perder...

Sem mais suportar a distância, lanço meu corpo fora da dança e o repouso sobre o seu... Seu calor, seu cheiro, seu olhar, seu gosto me invadem, me torturam, descompassam e descoordenam qualquer tentativa de controle de mim...

Não posso resistir e me entrego, me solto como se fosse voar e deixo que suas mãos, suas pernas, sua força contra a minha força conduzam-me através da sua pele que toca minha pele e desse prazer que me transborda de prazer!

De repente, sentindo seu peso - eu sou sua -, sentindo o contato do seu peito no meu - eu finalmente sou sua - e minha respiração ficando curta e aguda, eu tremo e deslizo sobre o lençol que confidencia o nosso suor, me descontrolo, me esqueço de todo o resto... Quero mordê-lo para abafar o instinto insano inconsciente de atravessá-lo, como se pudéssemos de fato ocupar o mesmo lugar no espaço!

E assim, entre o mundo real e o paralelo, acordo te procurando de novo!"


Palavras tortas como um sorriso muito especial!

Beijos a todos e todas,
K.

Canarinhos

Andando pelas ruas e vendo aquele mar de bandeirolas; o verde, amarelo, azul e branco espalhados muito além das matas, dos céus, do ouro e etc., vai me tomando a mente uma sensação difícil de definir... Posso dizer que isso chega a me irritar tanto quanto as festividades de Natal, e olha que tais festividades me irritam por demasiado!

Acontece que se há algo que não suporto é a falsidade... Aí um bando de marmanjos milionários vêm sazonalmente trajar-se de amarelo canário e dizer que amam ser brasileiros para depois voltar ao seu reduto europeu e ensinar seus filhos o espanhol, o italiano, o inglês e tantos outros idiomas como língua-mãe antes do português d'além mar...

Pior, o povo de boa fé se ilude com o clima de patriotismo e vibra, se une, canta e torce mais pela seleção do que pelo próprio sucesso, enquanto isso, é ano eleitoral e muita coisa passa despercebida e sem perceber, a copa termina, o Brasil é ou não é campeão, e aquilo que de fato deveria fazer o povo se unir continua inexplorado...

Aí, enquanto os ilustres jogadores voltam aos seus palacetes europeus, a fome, a educação, a saúde e a segurança continuam muito longe de serem campeãs de qualquer coisa...

Por isso, não me peçam para vibrar sequer por um segundo se acaso tivermos o melhor ataque, a defesa menos vazada ou ainda se levarmos o caneco... "Panis et circensis" nunca me convenceu!

Um forte abraço,
K.