terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Do baú...

Estava navegando pela minha timeline do Twitter e vi um link para uma promoção que daria 05 exemplares do livro "Leite Derramado", do Chico Buarque, para as melhores respostas ao tema "descreva a memória que mais marcou sua vida"...

Comecei a escrever serenamente e coloquei o último ponto final em lágrimas.

Para aqueles que ainda não acreditam que "os brutos também amam", segue a minha resposta. Espero que gostem, não tecnicamente, mas que gostem com seus corações, pois é sincera e não estética.

Beijos com carinho,
K.

Lembro, e nunca haverá um modo de esquecer, do carinho a mim devotado durante minha vida pelo meu avô Mário... Os cabelos nunca totalmente brancos, penteados para trás minuciosamente com loção Palmindaya e seus pequenos olhos cinza mergulhados em rugas se estreitavam ainda mais quando me viam! Ele incentivava todas as minhas artes; na época das férias de Julho, ele e minha avó Nena me ajudavam a encher de bandeirinhas coloridas de papel a casa toda, passavam horas batendo corda para eu pular até a estafa, que geralmente demorava muito mais do que o cansaço que devia tocar seus braços, mas eles ainda improvisavam uma padiola com um lençol velho e corriam pelo quintal, entrando e saindo de casa com a eterna acidentada, que parecia não querer crescer... Eu inventava receitas inusitadas de bolinhos com alpiste, formigas vivas que pegava no quintal, pedaços de grama picadinhos com cuidado, minha avó cozinhava e meu avô heroicamente desgustava minha obra de arte culinária sem nunca reclamar... E mesmo às vezes, quando eu estava em brincadeiras reclusas do imaginário infantil, desenhando algo, ou lendo, ou somente observando uma formiga carregar uma folha ou uma minhoca perfurando a terra, lá estava ele; mãos cruzadas sobre sua coluna lombar, levemente reclinado em minha direção, sem nada dizer, esperar ou pedir, apenas me cuidando com um afeto que somente anos depois pude entender... Meu avô foi a pessoa que eu mais amei - e que certamente mais me amou - nesta vida, e foi também o primeiro ser amado que eu perdi.